Um grupo de voluntários que luta para que a história da passagem de Santos Dumont por Foz do Iguaçu e a interferência dele para que as Cataratas do Iguaçu se tornassem patrimônio público seja difundida está com mais uma iniciativa. Com o apoio da Liga Independente dos Guias de Turismo de Foz do Iguaçu (LiGuia-Foz), da Cooperativa de Transporte e Turismo Alternativo (COOTTRAFOZ) e do curso de Arquitetura da Uniamérica, além de outros interessados, o grupo busca apoio da sociedade para que seja criado um espaço de memória perto da estátua de bronze de Santos Dumont, nas Cataratas. A estratégia é sensibilizar o Instituto Chico Mendes da Conservação e Biodiversidade (ICMBIO) para que inclua entre as obrigações da empresa que vencer a próxima concessão para administrar o Parque Nacional do Iguaçu a reconstrução do “Hotel Brasil nos Saltos”, onde Santos Dumont ficou hospedado em 1916.
O hotel era, na verdade, uma pequena casa de madeira de quatro cômodos e serviu de morada ao pai da aviação durante dois dias enquanto ele visitou as Cataratas acompanhado do pioneiro da hotelaria iguaçuense, Frederico Engel, e do filho dele, Frederico Engel Filho. Nesse espaço, ficariam expostos objetos históricos, fotos antigas e informações que esclareçam aos turistas qual a real relação de Santos Dumont com as quedas. “Ainda existem objetos e utensílios desse hotel, como pratos, talheres, cadeiras que poderiam compor o acervo montado para resgatar essa história,” afirma o empresário Sérgio Teixeira, um dos voluntários envolvidos na ação.
Para o coordenador do curso de Arquitetura da Uniamérica, arquiteto Alexandre Balthazar, convidado pelo grupo para dar um parecer técnico sobre o espaço, o ambiente poderia ser mais que um espaço de memória. Segundo ele, seria possível criar um café temático que abrigasse a réplica do “Hotel Brasil dos Saltos” e servisse, também, para um tempo de descanso e contemplação aos turistas no final das trilhas. “Assim, as pessoas entenderiam por que tem uma estátua de Santos Dumont nas Cataratas e daríamos o devido reconhecimento ao pai da aviação e padrinho do Parque Nacional do Iguaçu pela contribuição dele para que essas terras se tornassem patrimônio público”, ressalta.
O espaço temático poderia, ainda, resgatar algumas das curiosidades que envolvem a vida do inventor do avião, Santos Dumont, que inspirou a criação do relógio de pulso masculino e que tinha, dentro do apartamento em que vivia em Paris, uma mesa com cadeiras de dois metros de altura para que os convidados tivessem a sensação das alturas, etc. Essas curiosidades e objetos ligados à passagem dele por Foz do Iguaçu, como o livro de hóspedes com a assinatura do pai da aviação, compõem a primeira exposição pública sobre o assunto, atualmente, no Ecomuseu de Itaipu. A exposição “Asas da Memória – Santos Dumont na Terra das Cataratas” foi idealizada pelos voluntários Sérgio Teixeira (empresário), Izabelle Ferrari (jornalista), Sílvia Scandalo (jornalista) e Kathlen Ferrari (pedagoga) que, agora, lutam pela criação de um espaço permanente de memória nas Cataratas.
Santos Dumont e as Cataratas
Em 1916, quando soube que Santos Dumont desembarcou em Puerto Iguaçu, Argentina, como parte de um roteiro de viagem pela América do Sul, o pioneiro da hotelaria iguaçuense, Frederico Engel, não perdeu a chance. Buscou apoio da prefeitura de Foz do Iguaçu para trazer o visitante ilustre para o “lado de cá” da fronteira. Santos Dumont já era uma personalidade mundial, tinha sido o primeiro homem a voar num aeroplano dez anos antes, no voo histórico do 14-Bis. As autoridades locais consideraram que não tinham muito a oferecer, mas Engel insistiu, tornou o convite oficial e foi atendido por Santos Dumont. Em visita a Foz do Iguaçu, Santos Dumont primeiro foi recebido no “Hotel Brasil”, hotel instalado no (agora) centro da cidade. Foi recebido com uma festa!
No dia seguinte, Frederico Engel, Frederico Engel Filho e Santos Dumont partiram para o passeio nas Cataratas. Lá, instalaram-se na filial do “Hotel Brasil”, uma pequena casa de madeira batizada de “Hotel dos Saltos”, que ficava de frente para as quedas. Frederico Engel tinha adquirido o direito de explorar a hospedagem a partir de um arrendamento feito pelo dono das áreas, o estrangeiro Jesus Val. Sim, as terras onde ficam as Cataratas do Iguaçu já foram quintal da propriedade de um particular. E foi isso que fez Santos Dumont desviar o rumo da viagem dele e partir para a capital do estado do Paraná, Curitiba, em vez de seguir para o Rio de Janeiro, como era previsto. Lá, ele esteve com o governador do Paraná, Affonso Camargo e pediu que as terras onde estão as Cataratas se tornassem patrimônio público. Três meses depois saiu o decreto de desapropriação.
“Pouca gente sabe desta história,” defende a assessora da Liga Independente dos Guias de Turismo de Foz do Iguaçu (LiGuia-Foz), Ana Paula da Silva Kluck, e completa: “temos que fazer um esforço muito grande pra que isso se torne interessante para o turista”. Segundo ela, com a criação de um espaço de memória, além de reconhecimento, esta história ganharia notoriedade. Passam pelo Parque Nacional do Iguaçu em torno de 2 milhões de turistas do mundo todo, por ano. Na melhor das hipóteses, alguns deles vão embora com uma foto da estátua de Santos Dumont, mas o entendimento sobre essa história acaba passando em branco.
Como apoiar a ideia de criação de um espaço da memória nas Cataratas
Apoiar a ideia de criação de um espaço de memória que resgate essa história dentro do Parque Nacional do Iguaçu é muito, muito simples! Basta clicar no link: https://web.bndes.gov.br/pesquisa/index.php/838467 e preencher o formulário. Se você tiver alguma dúvida, pode clicar neste outro link em que os voluntários mobilizados por esta causa criaram um passo a passo para te auxiliar a fazer parte desta história: https://bit.ly/33XheFI.
Izabelle Ferrari – Assessoria de Comunicação
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